Bombardeio a hospital de Gaza deixa 500 mortos, dizem autoridades da Faixa de Gaza; Israel culpa Jihad Islâmica

 Um ataque aéreo a um hospital no centro da cidade de Gaza, na tarde desta terça-feira, deixou pelo menos 500 vítimas — segundo o Hamas, as vítimas passariam de 870. Após o bombardeio, sem precedentes, o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, declarou três dias de luto, informou a agência oficial Wafa. Facções políticas também pediram que os comércios fechassem suas portas como forma de protesto.

O Hospital Árabe al-Ahli é o mais antigo de Gaza, fundado em 1882.

As autoridades de saúde em Gaza afirmam que pelo menos 3 mil pessoas já foram mortas na Faixa de Gaza em retaliação ao ataque do grupo terrorista Hamas, em 7 de Outubro, que matou 1.300 israelenses.

Após o ataque, as Forças Armadas de Israel disseram, em comunicado, que hospitais não eram alvos militares israelenses e disse estar investigando o bombardeio. Horas depois, o IDF (Forças de Defesa de Israel) afirmou que "de acordo com informações de inteligência, provenientes de diversas fontes", a organização terrorista Jihad Islâmica seria a responsável pelo foguete que atingiu o hospital.

Em uma coletiva de imprensa, o porta-voz das Forças Armadas, Daniel Hagari, já havia questionado os números divulgados e deu a entender que os ataques podem ter partido do próprio Hamas.

— O evento acabou de ocorrer e já foram divulgados números tão precisos? Há também falhas de disparo de mísseis e o Hamas espalha notícias falsas. Mas estamos investigando e contaremos a verdade ao público assim que a tivermos verificado.

Mais cedo, Ashraf al-Qidra, porta-voz do Ministério da Saúde palestino em Gaza informou numa entrevista televisiva que pelo menos 500 palestinos foram mortos no ataque.

O Hamas, por sua vez, estimou que mais de 870 pessoas morreram. "Um novo crime de guerra cometido pela ocupação [Israel] no bombardeio do Hospital Árabe al-Ahli, no centro da Cidade de Gaza, resultando na chegada de dezenas de mártires e feridos ao Complexo Médico Al-Shifa devido ao bombardeio. Deve-se notar que o hospital abrigava centenas de pacientes, feridos e pessoas deslocadas de suas casas à força devido aos ataques aéreos", diz um comunicado do grupo terrorista no Telegram.

De acordo com a rede de TV al-Jazeera, o hospital "ainda está em chamas". A reportagem descreveu o cenário na unidade de saúde como "catastrófico". "Ainda há pessoas sob os escombros dos edifícios destruídos. As equipes médicas estão tentando retirar as vítimas, mas há um número crescente de feridos em diferentes áreas da Faixa de Gaza", diz o site do canal.

A reação internacional foi imediata. O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, declarou que o ataque "não está em linha com o direito internacional" e o presidente do Turquia, Recep Tayyip Erdogan, atribuiu os ataques à Israel.

"Atingir um hospital onde estavam mulheres, crianças e civis inocentes é o exemplo mais recente dos ataques de Israel desprovidos dos valores humanos mais básicos", afirmou Erdogan em uma publicação no X (ex-Twitter).

O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Qatar afirmou, em nota, que “a expansão dos ataques israelenses sobre a Faixa de Gaza para incluir hospitais, escolas e outros centros populacionais é uma escalada perigosa”.

Um alto funcionário palestino disse que Abbas cancelou a sua participação numa reunião marcada para a quarta-feira com o presidente dos EUA, Joe Biden, e outros líderes do Oriente Médio.

A Organização Mundial da Saúde (OMS), por sua vez, “condenou veementemente o ataque” e pediu a proteção de civis:

"Os primeiros relatórios indicam centenas de mortos e feridos. Apelamos à proteção imediata dos civis e aos cuidados de saúde, e à reversão das ordens de evacuação", escreveu no X o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus..

O ataque israelense é o mais mortífero em cinco guerras travadas desde 2008, segundo da Defesa Civil Palestina.

— O massacre no Hospital Árabe al-Ahli não tem precedentes na nossa história. Embora tenhamos testemunhado tragédias em guerras e dias passados, o que aconteceu esta noite equivale a um genocídio — disse o porta-voz Mahmoud Basal à rede al-Jazeera.

Zaher Sahloul, da organização humanitária MedGlobal, sediada nos EUA, classificou o ataque com vítimas em massa como “o pior ataque a uma instalação médica no século XXI”.

— Bombardear hospitais é contra o direito internacional. É um crime de guerra. Isso mina a neutralidade médica e as Convenções de Genebra de 150 anos, e priva uma comunidade palestina local em dificuldades do acesso aos cuidados de saúde — afirmou. — Isso agrava o trauma na Faixa de Gaza, enviando a mensagem de que nenhum lugar é seguro, nem mesmo dentro de um hospital.

Embora estime-se que mais de 500 mil civis tenham migrado para o sul da Faixa de Gaza, após o ultimato de Israel para que a população palestina desocupasse a região ao norte do rio Wadi Gaza, as Forças Armadas israelenses continuaram a bombardear a área do enclave que muitos acreditavam ser uma área segura em meio à guerra. Um balanço de autoridades palestinas afirma que 80 pessoas morreram em bombardeios na região nas últimas 24 horas, com dezenas de feridos.

O Globo

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